POR MARINA COLERATO
Alguns materiais são alternativas promissoras ao couro nosso de todo dia e escapam também do tradicional PU ou PVC, oriundos de fonte não-renovável.
Parte das novidades já ganharam escala e adentraram o mercado de moda e acessórios, como é o caso do Pinãtex e do Tyvek.
Mas há outras opções interessantes por ai que também têm potencial para sair do experimental e ganhar mercado.
Listamos 4 delas por aqui, mas há, sem dúvidas, outras opções como o tecido da folha de bananeira e o capim dourado, ambos brasileiríssimos.
Do tradicional à alta tecnologia, opções não faltam e as possibilidades são muitas.
O que essas alternativas precisam, principalmente as que já têm capacidade de escalonar, é de uma maior atenção dos designers e das marcas.
Além de projetos que desenvolvam, viabilizem e incentivem materiais mais amigos do meio ambiente.
No entanto, é importante lembrar que, apesar de minimizar consideravelmente o impacto ambiental e alguns deles terem potencial de gerar impacto social positivo, esses materiais também têm impactos negativos de produção, então eles fazem muito mais sentido quando alinhados a novas formas de pensar consumo e fazer negócios, prezando menos produção e venda, mais qualidade, serviços e compartilhamento.
Enfim, apesar desses materiais não serem de fácil acesso, eles servem para nos ajudar a pensar totalmente fora da caixa e enxergar além.
Materiais usados
1. Tecido da Floresta
A princípio, usado pela estilista Flávia Aranha, o tecido da floresta é uma manta de algodão com aplicação de látex natural.
Produzido por artesãos de Rondônia, na Amazônia, é um material maleável e com boa durabilidade, que pode ser usado para produção de acessórios, calçados e roupas.
O material ainda pode ser considerado um material experimental, porque a produção é pequena e é necessário um tempo de maturação do látex.
Além da limitação de cor, que vai variar de acordo com o tempo de maturação e espécie da árvore, o que torna sua aplicação em escala mais complicada.
Além de ser um material natural, com propriedade biodegradável, numa produção livre de químicos, o tecido da floresta tem bastante semelhança com o couro, algo muito bem vindo para os designers que estão procurando por alternativas mais amigas do meio ambiente (e dos animais).
Sandália feia com tecido da floresta na parceria Flávia Aranha + Insecta Shoes // Reprodução
2. Barkcloth
O tecido casca da árvore em tradução literal foi reconhecido pela UNESCO como “uma obra-prima do patrimônio oral e intangível da humanidade”.
Tradicional da Uganda, esse material é feito a partir da casca da árvore Mutuba.
Tal casca é colhida durante a estação chuvosa e pode ser colhida continuamente por mais de 40 anos, sem causar danos à árvore.
Igualmente conhecido pelos ugandeses como Olubugo, até o século XIX era o tecido tradicional do país e até hoje é usado por reis Buganda.
Usado para funções oficiais e por religiosos em suas práticas espirituais.
Depois de ser reconhecido pela UNESCO, o tecido da casca ganhou maior visibilidade global e sua produção é também incentivada para gerar renda principalmente para as mulheres artesãs.
Assim também o processo de produção é bastante intensivo em recursos humanos.
Depois de retirada das árvores, a casca é batida com malhos de madeira até chegar em uma textura macia e fina.
A cor do tecido é determinado pelo nível de exposição à luz solar, quanto mais exposição ao sol, mais escuro o pano, porém ele pode ser tingido e estampado.
É também um tecido bastante resistente e encorpado.
Bolsas
3. Dinamica®
A empresa italiana Miko é um laboratório de pesquisa e inovação da Sage Company, responsável por desenvolver materiais e soluções para interiores de veículos automotivos.
Dinamica® é uma microfibra bastante parecida com o couro produzida a partir de PET descartado (como garrafas plásticas) e fibras de poliéster (como roupas usadas).
Diferente do tecido de PET reciclado que normalmente vemos por aqui, o Dinamica® é 100% reciclável no fim da sua vida útil, garantindo assim um produto capaz de entrar de volta na cadeia produtiva num sistema circular.
O ciclo de produção do Dinamica® reduz o consumo de energia e a emissão de gases de efeito estufa em 80% se comparado ao poliéster virgem.
O processo de produção do material também não usa nenhum ingrediente tóxico como solventes e corantes com metais pesados.
A Miko já ganhou diversos prêmios por suas inovações com foco em sustentabilidade e pelo Dinamica®.
Dinamica®, o eco-suede da Miko, é uma das alternativas sintéticas mais interessantes hoje // Reprodução
4. Maestley™
O man-made leather da empresa japonesa Teijin é um material recente, lançado em 2017 e que começa a adentrar no mercado agora.
Criado para competir com o couro natural de alta qualidade dentro do segmento de acessórios e sapatos de luxo, o Maestley™ promete conforto, durabilidade, respirabilidade e permeabilidade à humidade.
Ainda não está muito claro do que o material é feito, nem sobre seu ciclo de vida e possibilidade de reciclagem, mas como o produto está entrando no mercado global agora, os detalhes devem pipocar em breve.
No começo desse ano, por meio de uma marca de backpacks chamada Randsellier, responsável por fazer bolsas em um formato tradicional japonês conhecido como randoseru, a Taijin adentrou de vez o mercado de produtos e acessórios de moda em Paris – um importante passo para competir dentro do segmento de alta moda.